Seguindo com mais trabalhos acadêmicos, esse pós-graduação de Aldemir Leonardo Teixeira na PUC em 2007. O Movimento Punk no ABC Paulista - Anjos: Uma Vertente Radical.
Primeiro adiantar que introdução, apresentação, referencial teórico e estudos e métodos são uma parte bem curta e rápida, bom pra quem, como eu, acha um saco isso.
O autor diz que quis escrever especificamente sobre a cena do ABC por haver pouco material sobre isso - o que é verdade, tudo quanto é documentário e trabalho por aí tu sempre vê nomes como Clemente (Inocentes), Ariel (Restos de Nada/Invasores de Cérebros), Redson (Cólera), Fabião (Olho Seco) e João Gordo (Ratos de Porão), mas raramente vê algo sobre o ABC - mas eu suspeito, pela narrativa, que o próprio autor tenha sido parte da gangue Anjos, e que ele guarda muito ressentimento, como alguns dos entrevistados, quanto as questões das tretas ABC x São Paulo e também algum senso de superioridade quanto às gerações a seguir, com certo desdem pelos punks que vieram a surgir pelo final dos anos 80 e começo dos anos 90, mesmo citando diversas organizações politizadas entre eles.
Bom, o primeiro capítulo se trata de uma contextualização do movimento punk, citando alguns movimentos jovens anteriores e aí citando a cena punk inglesa e americana, essa parte tá bem rica em detalhes mesmo que eu ache que algumas pesquisas do autor não tenham sido tão completas.
Aí vem a parte legal, o segundo capítulo começa a falar sobre a cena punk no Brasil, o surgimento dela, fala bastante sobre primeiras bandas, divulgadores, eventos, salões, noticias, etc, cita banda e gangue pra caramba, mas claro, o seu foco é o ABC e os Anjos. O autor insiste bastante no lance de os punks do ABC terem uma bagagem política mais contundente que os da "city", de serem mais extremos e tal, aí eu já não sei dizer se é verdade, mas se tu olhar comparando ao menos as três principais bandas que ele estuda: Passeatas, Hino Mortal e Ulster, com as três maiores da city na época, Inocentes, Olho Seco e Cólera, as do ABC de fato eram mais agressivas tanto no visual e na sonoridade quanto nas próprias letras.
Além de entrevistas com membros das citadas Passeatas, Hino Mortal e Ulster também rola entrevista com outros punks do ABC, bastante histórias do Anjos, bastante citação de bandas e eventos, e também fotos das bandas Passeatas, Libertação Radical, Indigentes, Hino Mortal, Ulster, Niilista, Decadência Social/DZK e Disritmia.
O terceiro capítulo se trata da Dispersão, e conta os problemas que assolaram o grupo, como a morte e assassinato de alguns integrantes. Também relata as tentativas de reorganização e a resistência que teve. Numa das partes conta uma história engraçada da banda Libertação Radical, que havia ganho um concurso de bandas da CUT, e fora convidada a tocar num comício do Lula bem na praça onde os Anjos se reuniam, e como foram menosprezados pela organização resolveram gritar entre as músicas frases anarquistas contra partidos e políticos. Depois do show os organizadores com seus seguranças quiseram tirar satisfações, mas um dos integrantes só disse para a organização, apontando para os punks "Se liga, você não está na sua área, se encostar a mão na gente tá vendo aquele grupo ali, incendeia toda essa merda" e o pessoal do PT e CUT se borraram hahaha
O autor mostra como o grupo Anjos, e as bandas que surgiram no meio, sempre tiveram forte posicionamento anarquista, na verdade, ele divide a gangue em sua criação em '77 como uma gangue de rua normal e pós '79 com um ideal anarquista definido, e demonstra isso em zines, manifestos e letras de músicas.
No final é disponibilizado uma série de cartazes, fotos, panfletos, recortes de jornais e revistas. O livro é bem direto e tem uma linguagem bem simples, e bem legal pra quem quer conhecer um pouco do que foi a cena no ABC nessa época.
O Movimento Punk no ABC Paulista - Anjos: Uma Vertente Radical, Aldemir Leonardo Teixeira (2007)