Acabei de ripar essa bolachinha linda, já fazia um tempo que ela não rodava e me deu saudades.
Essa coletânea foi organizada pela A.Y.F. (Anarchist Youth Federation), foi lançada pela Elephant Records de Santos em 1994 e conta com 6 bandas - elas também eram envolvidas na Juventude Libertária e eu realmente não sei a diferença entre JULI e A.Y.F..
Isso aí é uma amostra do que foi a primeira leva de hardcore punk dos anos 90, quando surgiram os movimentos anarcopunk e straight edge (a Elephant Records lançou nomes importantes dos dois lados, como Personal Choice e Execradores).
O texto na contra-capa do compacto é bem interessante, e deixa bem claro letras posteriormente feitas pelo Sick Terror (pra quem não sabe, tem o mesmo letrista do Personal Choice) falando sobre essa época, então pra começar vou citar uma delas:
"Tínhamos um sério problema em nos sentirmos melhores que os outros, algumas pessoas não entendiam, então resolvemos ao nosso modo. Pega esse filho da puta, porque o cabelo dele é comprido. Pega esse filho da puta, porque ele não é anarquista. Pega esse filho da puta, porque ele curte Green Day. Pega esse filho da puta, porque ele bebe e fuma."
(Sick Terror - A Nova Escória)
Voltando ao texto, ele diz pra "esquecer as bandas do passado", que a "velha cena punk hardcore brasileira era apenas por diversão" e sugere que essa geração de bandas (do final dos anos 80, começo dos 90) seriam as verdadeiras bandas comprometidas com o "ESPÍRITO HARDCORE", e acusa bandas de serem "pura merda" por estaram "em gravadoras fascistas ou tocando nas rádios e na MTV" (lembrando que: além de na época Inocentes, Plebe Rude, Replicantes, entre outras terem assinado com gravadoras grandes, Garotos Podres e Ratos de Porão entrarem para gravadoras relativamente grandes, ainda temos a Ataque Frontal e Devil Discos, que tinham certa influência e conseguiam colocar suas bandas nas rádios - no casting estavam Cólera, Korzus, Grinders, Lobotomia, Não Religião, Kães Vadius, Pupilas Dilatadas, entre muitas outras... todas, aparentemente, "pura merda").
É inegável que a cena hardcore punk de rua dos anos 90 foi muito mais politizada que a dos anos 80. Maior acesso a informações, menos ganguismo, e claro, toda uma geração que já havia formado idéias para influenciar positivamente a nova geração. Mas isso não justifica a arrogância do texto (AQUI pra quem quiser ler).
Enfim, das 6 bandas eu só sei como seguiram 3 delas, e todas evoluíram muito positivamente - e engraçado, o texto zoa diretamente o Ratos de Porão, e o num dos últimos trabalhos do Nenê Altro (Personal Choice) ele gravou um som junto ao João Gordo hehehe
Sem mais delongas, segue este maravilhoso e curioso compacto.
01 - Personal Choice - Not Alone
02 - Necrorrosion - Libertarian Youth
03 - Clear Heads - No Deal
04 - Electric Sickness - Asking Point
05 - Dezakato - We Can Try
06 - Abusos Sonoro - Não Capitalismo
ps: Desculpe se ficou parecendo que o texto do disco é do Nenê Altro, não posso dizer que sim ou não pois ele não é creditado a uma pessoa, mas ao coletivo. Eu acredito que não seja, mas indiferente a isso, a intenção em citá-lo no final é só pra mostrar a ironia do destino hehe
ps: Desculpe se ficou parecendo que o texto do disco é do Nenê Altro, não posso dizer que sim ou não pois ele não é creditado a uma pessoa, mas ao coletivo. Eu acredito que não seja, mas indiferente a isso, a intenção em citá-lo no final é só pra mostrar a ironia do destino hehe
O texto da contracapa é divertido e tipicamente adolescente, daí o pretenso radicalismo. Afinal, o que é "ser hardcore"? Uma pessoa pode ser punk, anarquista, straight edge, sei lá. Hardcore é um estilo musical. Não dá pra "ser hardcore".
ResponderExcluirCara, muito boa a postagem! Fico muito feliz por pessoas como você compartilharem tanta coisa do passado que fica nos arquivos da memória de cada um que viveu a época, mas nunca é passado pra frente! Regatar essa história é sempre preciso! Parabéns!
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