Atenção, este é um blog pessoal, eu só divulgo/resenho material QUE EU QUERO QUANDO EU QUERO. Você pode até me enviar seu trabalho ou me pedir pra upar alguma banda especifica se quiser... quem sabe eu acabo fazendo? Mas eu não me comprometo a postar/divulgar/disponibilizar NADA.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Entrevista com o Vladi (Ulster, Brigada do Ódio, Rasura Records)

A postagem que fiz sobre a ABC Records gerou uma boa repercussão, bastante gente veio conversar comigo sobre o assunto então eu resolvi montar uma matéria sobre isso.
Aqui uma parte dela, uma conversa com o Vladi falando sobre a cena política do movimento punk nos seus primórdios.


Como era a influência de partidos dentro da cena punk durante os anos 80?

Olha só, bem no começo da coisa (mais ou menos 1979) não existiam lugares para tocar, nem os botecos zoados. E também foi um tempo em que os movimentos de extrema esquerda oriundos dos Partidos Comunistas (Convergência Socialista, Alicerce, etc.) começaram a se fundir, culminando no que viria a ser o PT. Estes segmentos socialistas promoviam enfrentamentos com a polícia durante as famosas greves do Sindicato dos Metalúrgicos no ABC, e perceberam que o movimento Punk também tinha este particular de enfrentar o Regime Militar vigente na época. Se aproveitaram da falta de espaços para as bandas tocarem e regularmente ofereciam seus diretórios para as bandas e para os punks fazerem suas primitivas aparições. O que aconteceu foi que alguns punks acabaram se identificando com esta militância e acabaram por se filiar, ou desenvolveram algum tipo de simpatia com o PT. Entenda que o anarquismo que experimentamos nestes tempos era mais intuitivo e reativo aos abusos do regime militar, do que algo concebido pelo ideal libertário, pois todos os livros sobre temas anarquistas publicados nos anos 60 e 70 foram confiscados e destruídos. Ainda hoje é muito raro um exemplar da editora Germinal. Livros do Roberto das Neves, José Oiticica e os ícones do anarquismo contemporâneo só fomos conhecer um pouco mais tarde. Os movimentos de extrema direita aconteceram bem mais tarde (perto de 1984/1985). Existiam também as confusões, como você muito bem citou, do real significado da suástica e outros símbolos. Muitos punks queriam mesmo era chocar a sociedade e muitas vezes se faziam valer de qualquer argumento para isto. Os primeiros Skinheads (Carecas do Subúrbio) surgiram de dissidências da cena punk, e como dizem os dissidentes são os maiores opositores. Começaram então os primeiros conflitos entre punks e carecas. Logo depois vieram os carecas nacionalistas que intensificaram as tretas. As bandas eram mais tolerantes, porém eram muito cobradas por atitudes consideradas antagônicas à ideologia assumida.

Entre os conflitos dentro da cena, o que pesava mais: O bairro ou a ideologia?

Os conflitos surgiram meio que incidentalmente num som de fita que ocorreu em São Caetano do Sul, e acabou por separar os punks (e de uma certa forma as bandas) de São Paulo e do ABC. Observamos posteriormente que as bandas do ABC tinham menos recursos técnicos, porém uma bagagem política mais contundente. Mas não considero isto uma verdade absoluta. 

Rolava de bandas de posicionamentos diferentes tocarem juntas? O público se importava?

As bandas tocavam juntas sim, por exemplo o Ulster tocou com o Dose Brutal sem nenhum problema para as bandas nem com o público. Já de 1986 em diante isto se tornou muito mais problemático, pois a cobrança era muito maior.

Ao meu ver, o grande racha ideológico aconteceu pelo final dos anos 80, e a cena dos anos 90 já surgiu bem polarizada. Como foi pro pessoal mais velho ver isso?

Realmente nos anos 90 todo o conceito libertário ficou mais claro e muito mais acessível. Isto não incomodou o pessoal mais antigo, pois até hoje existe uma sinergia muito legal entre a galera mais nova e o pessoal das antigas. Muito intercâmbio e pouca cobrança (pelo menos comigo e com minhas bandas). Gosto muito das iniciativas das bandas mais novas.

Tu me contou que foi quase vizinho do dono da ABC Records, que lançou alguns materiais do Ulster, em algum momento te incomodou ele também lançar materiais de bandas fascistas?

Bem, agora falando dele, me incomodava muito seu "lado B", que começou com seu gosto por bandas street punk que tinham um pé na cena Oi! e posteriormente WP. Na verdade ele sempre foi uma pessoa muito boa de coração (das melhores do movimento), mas nunca consegui entender este desvio. Acredito que tem haver com uma ocorrência pessoal que não me sinto bem em relatar. Por várias vezes tentei dissuadi-lo destes vacilos, mas somente depois de vários problemas ele percebeu a cagada que fizera. Já há alguns anos ele anda distante disto tudo. Porém a cena punk deve muito a ele pelos trabalhos prestados.

Eu não sei quanto à capital, mas no ABC surgiram Nova Nação, Frente Nacional, Arsenal, Poder Branco/Locomotiva entre outras, qual tu acha que foi o motivo para o surgimento de tantas bandas de visão conservadora? Na capital também houve essa tendência?

Sobre as bandas White Power penso que o ABC também foi reduto delas (infelizmente), mas SP também experimentou esta pobre competição.

Cara, espero que algo te seja útil, e quero te cumprimentar pela ótima escrita e sobretudo pelo refinado entendimento dos diferentes pontos de vista por que passam as pessoas, e que são eternamente mutantes.

Valeu pela participação e apoio Vladi!


Eu fui convidado a escrever para o site Porão Brazil, e a matéria completa esta lá, apesar de ser uma visão superficial sobre o assunto tem algumas coisas que talvez vocês achem interessantes. Confiram a matéria aqui.

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