E outro trabalho acadêmico! "Skinheads: Os “mitos ordenadores” do Poder Branco Paulista". Mestrado em Ciência Sociais PUC-SP por Alexandre de Almeida, 2004.
A PUC passou a digitalizar seu acervo a partir de 2005, o que tornou um pouco difícil consegui-lo. Na verdade, eu já tinha a maior parte do livro (recebi por email), mas no arquivo não constava o seu começo, como introdução e o próprio título do livro e o nome do autor. Em uma pesquisa encontrei essa mensagem de 2010 nos arquivos das listas da IndyMedia.
"Olá,
Há alguns anos atrás, escrevi uma dissertação de mestrado sobre a formação do White Power Paulista.
Após várias negativas de editoras, percebi que ela iria ficar "empoeirando" na biblioteca da faculdade Por isso, resolvi enviar o original (em PDF) à pessoas interessadas pelo tema.
Se vocês gostarem, peço que utilizem sua rede de contatos e ajude a disponibilizá-la para mais pessoas.
Qualquer coisa, estou à disposição.
Um abraço.
Alexandre de Almeida."
E lá também encontrei o começo do livro e o anexei no arquivo aqui.
No primeiro capítulo o autor estuda o "surgimento dos movimentos reativos à Nova Ordem Global", pondo o capitalismo e a globalização como fatores preponderantes à perda de identidade do individuo, e a busca por ela se torna uma bengala existencial. O individuo então procura e cria mitos para se sentir seguro no meio onde ele sentiu perder todo o controle. E como o título do trabalho denuncia, o foco são os "mitos ordenadores" criados pelo Poder Branco Paulista, a primeira organização neo-nazista skinhead brasileira.
Obviamente, a pesquisa histórica remete à Inglaterra, e mostra como organizações políticas, em especial o National Front, busca recrutar os jovens insatisfeitos.
Havendo uma dissidência da cena punk com idéias mais conservadoras, o partido começa a patrocinar bandas com tais visão, como o Cock Sparrer e posteriormente Last Resort, Condemned 84 e Combat 84, todas participaram de eventos patrocinados pelo National Front.
"a afinidade central do Cock Sparrer era com o reino, com a rainha,
súditos da rainha (...) patriotismo(...) a gente nunca foi radical, o
pessoal que seguia a gente era (...) "
C.S., Cock Sparrer .
Bom, nessa ele, claro, chega ao Screwdriver e bandas posteriores... pois bem, o que eu acho interessante mesmo do livro é o segundo capítulo, que mostra os partidos fascistas brasileiros tentando replicar o que foi feito na Inglaterra, e aí ele cita três figuras grandes fascistas que se aproximam dos Carecas do Subúrbio procurando neles um braço armado nas ruas e também um meio de recrutamento de mais jovens. As três figuras seriam ALC, AO e AZ, o autor não cita nomes mas destes eu não vou deixar barato:
ALC - Anésio de Lara Campos: já vinha do PRP (Partido da Representação Popular) fundado pelo Plínio Salgado. Em 85 com o fim da ditadura ele reorganiza a AIB (Ação Integralista Brasileira), em 88 funda a Ação Monárquica Imperial e o PARNASO (Movimento Participativo Nacionalista Social) e até chegou a tentar se candidatar à presidência da república pelo Movimento Monárquico Imperial Brasileiro... ou seja, um fascista megalomaníaco com sérios problemas na cabeça!
AO - Aldo Onesti Mônaco: pertenceu à Juventude Fascista Italiana, integrou aqui PNSB (Partido Nacional Socialista Brasileiro) e depois fez parte do AIB. Também é um escritor revisionista e teve livros publicados pela editora Revisão, de Siegfried Ellwanger Castan, outro perturbado fã de grandes ditadores.
AZ - Armando Zanine Pereira Junior: funda em 85 o PNSB e é mentor de pelo menos três outras organizações nazi/fascistas, o Partido Nacionalista Revolucionário Brasileiro, o Partido Nativista e a Força Nacionalista Brasileira.
Estes sujeitos e suas organizações passam a financiar os Carecas do Subúrbio, seus eventos e bandas.
"Quanto àqueles que hesitavam em se filiar às organizações, algumas formas de cooptação foram utilizadas. Sem citar o nome de uma organização especifica, alguns entrevistados disseram que, de um modo geral, todas elas ofereciam cargos dentro da estrutura e financiamento de shows."
E aí começa os conflitos internos envolvendo ideologias e tendencias diferentes, as dissidências que formam os Carecas do ABC e o Poder Branco Paulista mas isso vou deixar a cargo do autor contar e tu vai saber se ler.
O terceiro capítulo se trata de uma análise dos mitos criados pelo Poder Branco Paulista: A supremacia branca, A Secessão de São Paulo e o Sul do resto do país, A conspiração judaica para dominar o mundo.
Essa parte é bem chata porque tenta analisar cada frase e motivação para cada mito, e é cheio de trechos de textos extraídos de fanzines regados a pseudo-ciências racialistas (que apelam até para divindades) e hipocrisias. O autor leva cerca de 30 páginas pra falar: "São um bando de idiotas" - não, o autor não diz isso, em fato, sua imparcialidade é bem incomoda.
Pra fechar, todo o conservador, reacionário e moralista é, por definição, um cagão. Ele tem medo da mudança e por isso se fecha em uma tradição, identidade, verdades únicas/mitos e qualquer merda assim, porque não passa de um covarde. E nas palavras do autor "O Poder Branco Paulista" como o resto da cena Careca "nutre a simpatia por estas ideologias, pois
elas não permitem a existência da dúvida, um sentimento que provoca
apreensão e agonia." - ou seja, fracos e medrosos.