Atenção, este é um blog pessoal, eu só divulgo/resenho material QUE EU QUERO QUANDO EU QUERO. Você pode até me enviar seu trabalho ou me pedir pra upar alguma banda especifica se quiser... quem sabe eu acabo fazendo? Mas eu não me comprometo a postar/divulgar/disponibilizar NADA.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Cena punk em Ribeirão Preto-SP dos anos 90 documentada

Segue aí outra tese de pós-graduação, Ciências Sociais PUC-SP feita em 2008: "Musica e Imagem: O movimento punk e seus desdobramentos - década de 1990" por Jefferson Barcellos.

O livro (após introdução, metodologia, etc) começa traçando uma linha desde o começo do blues e o surgimento do rock and roll como movimento cultural jovem de quebra padrão até o punk rock, onde traça melhor suas origens. Essa parte é bem rica e fala de muitos artistas dentro e fora da música e muitas influências - o autor só demonstra profundo desconhecimento ao citar os skinheads, presumindo só a existência da vertente nazista dos anos 80 e ainda a vendo como desdobramento do movimento punk.

Depois de uma rápida passagem pela cena punk paulistana ele vai falar sobre a sua cidade, Ribeirão Preto, há mais de 300km da capital.
Parece que sempre acabam ficando algumas lacunas, principalmente em lugares onde a cena é pequena, marcadas pela mudança de gerações. Lá pelos idos de 84 a cena punk paulistana deu uma esfriada, e acredito ter sido o mesmo pelo resto do estado. Havia, talvez, uma cena punk em Ribeirão Preto no começo dos anos 80, mas muito pouco documentada (até onde sei, só a banda Estágio Zero que teve uma matéria no zine "1999" em 83 - e que diz não haver, mas ainda assim existir, "não mais que meia dúzia de punks convictos"). O autor não cita essa primeira leva de punks da cidade, muito provavelmente não teve contato e talvez até desconheça, mostrando como uma primeira geração punk lá (erroneamente, claro) bandas formadas entre o final dos anos 80 e começo dos anos 90 como Desemprego, Os Estranhos e Os Egoístas (dessa última ele foi baterista).
Na sequência uma "segunda geração" com Motorcycle Mama, Broken Fingers e Distúrbio Mental e a formação do coletivo Cabeça de Bode - e bandas que vieram depois, como Punta, Paranóia, Monroe, Aleister, Bisqueiro Incendiário, Morfise, etc. A narração da organização da cena é uma história tão parecida com tantas outras: Os caras mais cabeças ligados na parte de atitude e postura independente fazendo uns corres monstro pra organizar a coisa, e depois de erguerem a cena aparecer otários que se identificam puramente com o visual sem ter nenhuma ideologia e começar a avacalhar tudo.


(fotos nos eventos Street Rock)

"A gente ia lá para apavorar mesmo, eu conhecia Sex Pistols e Ramones de ouvir falar, e o que eu ouvia falar era que sempre rolava umas tretas nos shows... que a galera apavorava. Era o que a gente fazia na época, comprava uma pinga, ia pra frente da loja e ficava empurrando aquele monte de playboy, pois nós é que éramos punks mesmo. Os caras podiam comprar tênis, calça gringa e instrumento musical. A gente tinha que ir de ônibus e passar embaixo da catraca. Então nós apavoramos mesmo. Mesmo sendo eles que tocavam pra gente ouvir."
(W. , Julho 2006)

"Nós começamos a chamar esse pessoal de 'Pébas', eu não sei direito da onde surgiu isso, nunca entendi direito. Mas o problema maior é que eles chegavam por volta de umas oito ou dez pessoas no máximo e criavam muito problema para gente. Foram vários atritos, que tiveram início no último Street Rock que tocaram todos do Cabeça de Bode. Acho que foi em 1994, ali teve gente machucada, eles interrompendo show para atrapalhar quem estava tocando. Jogando coisas no palco, aliás era a primeira vez que usávamos um palco na rua. Enfim começou a ficar bastante difícil conviver com esses caras. E o mais engraçado é que diferente de nós, que nos intitulávamos punks, eles mal sabiam o que era isso. O lance dos caras era porrada e só."
(Kelsen, Distúrbio Mental, Agosto 2007)

E como sempre, aconteceu aquilo que eu disse das lacunas marcadas pela mudança de gerações. Por 1996 essa cena começou a esfriar, pois a grande maioria do pessoal tava casado, com filhos, trabalhava e não sobrava tempo para o punk rock. Mas o mais legal do livro é que na pesquisa feita pelo autor buscando novamente todo esse pessoal ele conseguiu reunir quatro bandas da época, Motorcycle Mama, Paranóia, Distúrbio Mental e Broken Fingers com suas formações originais (só a última que tocou com um guitarrista da segunda formação) e organizou um evento/reunião em 2007 com elas, depois de mais de dez anos sem tocar (exceção do Distúrbio Mental, que nunca parou).
(Cabeça de Bode Revisitada, 2007)

Uma parte muito engraçada que tenho que destacar é que de todos que ele conseguiu o contato, só um se negou a conversar, dar entrevista, etc, porque virou crente! hahahaha Tinha que ser crente!
Sem mais, segue o link para download (mais de 200 páginas!):


ps: Devo lembrar que esse é um livro acadêmico, então muitas vezes o autor para pra fazer analises sociológicas/psicológicas sobre questões de identidade, interação social, juventude, etc.

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