A história que vocês vão ouvir agora, contada e cantada neste disco, não é só composta de instrumentos importados e estúdios sofisticados.
Ela é, antes de mais nada, a epopeia de dois jovens brasileiros (um, copeiro de bar, e outro, pedreiro) vivendo em uma cidade do interior do estado do Rio, Itaboraí.
O copeiro e o pedreiro, respectivamente Sérgio Espírito Santo e César Henrique, depois de largarem cada qual seu expediente, reuniam-se com o guitarrista e o baterista que morassem mais perto do local de ensaio, uma granja abandonada - e se transformavam em vocalista (Sérgio) e baixista (César).
Da guitarra sem distorção, do baixo tonante e dos amplificadores check-mate saía um rock'n roll bastante pueril, com pretensões de Barão Vermelho.
Embora suas "turnês" pelos palcos improvisados da cidade fossem feitas com carrinho de mão e sempre em prol de alguma coisa (leia-se tocar de graça), a música era, para eles, a maior diversão. Uma diversão de nome arrebatador, por vezes agressivo, curioso e até hilariante, de uma canção de Arrigo Barnabé: Tubarões Voadores.
Fundado em 1984, o Tubarões Voadores teve altos (os preços das passagens de ônibus, é claro) e baixos. Se o grupo perdeu a linguagem rock'n roll, com a saída de César Henrique, por outro lado ganhou muito com a chegado dos "hardcores" Dudu (bateria) e Branco (guitarra), além do baixista substituto Flávio Carvalho.
Com esse novo "time", as inovações rítmicas aumentaram, a evolução musical, embora lenta, foi nítida, e o interesse do público pelo grupo recrudesceu, veio, enfim, o disco.
Se, para muitos, o disco é apenas "preto com um buraco no meio", para os Tubarões Voadores de Itaboraí seu significado vai bem além. Especialmente para aqueles dois rapazes que, de uma simples brincadeira, jamais poderiam imaginar que teriam em suas vidas uma marca tão visceral com algo que para eles parecia só fazer parte do cotidiano das grandes estrelas: a música.
Mas até isso não fazia muita diferença, pois para quem só estava se divertindo, o estrelato não constava em seu vocabulário. Ainda mais para dois jovens que, "como eu, gostavam dos Beatles e dos Rolling Stones..."
De cerveja e de mulher também.
Ronaldo Soares.
(texto e foto retirados da contra-capa do disco "As Veias Abertas da Juventude", Tubarões Voadores - 1990)
Na postagem sobre o Síndrome de Down? eu havia falado de uma outra banda que fazia um som diferente de toda cena punk/hardcore na época, pois é, essa banda é o Tubarões Voadores.
Esse é outro disco que não vale nada (monetariamente) mas tem muito valor. Eu ia pegar uns materiais na Cogumelo e vi lá o dito disco, lembrei de já ter lido uma resenha bem positiva sobre ele no blog Velha Escola Nova Escola, e como tava bem barato eu resolvi levar... sem dúvida uma grande aquisição!
Hardcore bem politizado e trabalhado, linhas de baixo animais e letras muito boas - destaque para "Juventude" (que é da fase "pré-hardcore", mas é uma paulera só). O nome do disco foi inspirado em um livro de Eduardo Galeano, As Veias Abertas da América Latina.
Sem mais delongas, segue o link:
01 - Alternativa e Solução
02 - Nada na Cabeça
03 - Escravo do Poder
04 - Juventude
05 - Cansei
06 - Lugar Pra Nascer, Lugar Pra Morrer
07 - Nicarágua
08 - Anonimato
ps: tô repassando a mesma ripagem disponibilizada no Velha Escola Nova Escola, e, atenção, o disco ainda tá em catalogo na Cogumelo!
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