Atenção, este é um blog pessoal, eu só divulgo/resenho material QUE EU QUERO QUANDO EU QUERO. Você pode até me enviar seu trabalho ou me pedir pra upar alguma banda especifica se quiser... quem sabe eu acabo fazendo? Mas eu não me comprometo a postar/divulgar/disponibilizar NADA.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Origem da primeira facção skinhead nazista no Brasil

E outro trabalho acadêmico! "Skinheads: Os “mitos ordenadores” do Poder Branco Paulista". Mestrado em Ciência Sociais PUC-SP  por Alexandre de Almeida, 2004.

A PUC passou a digitalizar seu acervo a partir de 2005, o que tornou um pouco difícil consegui-lo. Na verdade, eu já tinha a maior parte do livro (recebi por email), mas no arquivo não constava o seu começo, como introdução e o próprio título do livro e o nome do autor. Em uma pesquisa encontrei essa mensagem de 2010 nos arquivos das listas da IndyMedia.

"Olá,
Há alguns anos atrás, escrevi uma dissertação de mestrado sobre a formação do White Power Paulista. Após várias negativas de editoras, percebi que ela iria ficar "empoeirando" na biblioteca da faculdade Por isso, resolvi enviar o original (em PDF) à pessoas interessadas pelo tema.
Se vocês gostarem, peço que utilizem sua rede de contatos e ajude a disponibilizá-la para mais pessoas. Qualquer coisa, estou à disposição.
Um abraço.
Alexandre de Almeida."

E lá também encontrei o começo do livro e o anexei no arquivo aqui.


No primeiro capítulo o autor estuda o "surgimento dos movimentos reativos à Nova Ordem Global", pondo o capitalismo e a globalização como fatores preponderantes à perda de identidade do individuo, e a busca por ela se torna uma bengala existencial. O individuo então procura e cria mitos para se sentir seguro no meio onde ele sentiu perder todo o controle. E como o título do trabalho denuncia, o foco são os "mitos ordenadores" criados pelo Poder Branco Paulista, a primeira organização neo-nazista skinhead brasileira.

Obviamente, a pesquisa histórica remete à Inglaterra, e mostra como organizações políticas, em especial o National Front, busca recrutar os jovens insatisfeitos.
Havendo uma dissidência da cena punk com idéias mais conservadoras, o partido começa a patrocinar bandas com tais visão, como o Cock Sparrer e posteriormente Last Resort, Condemned 84 e Combat 84, todas participaram de eventos patrocinados pelo National Front.

"a afinidade central do Cock Sparrer era com o reino, com a rainha,
súditos da rainha (...) patriotismo(...) a gente nunca foi radical, o
pessoal que seguia a gente era (...) "
C.S., Cock Sparrer .


Bom, nessa ele, claro, chega ao Screwdriver e bandas posteriores... pois bem, o que eu acho interessante mesmo do livro é o segundo capítulo, que mostra os partidos fascistas brasileiros tentando replicar o que foi feito na Inglaterra, e aí ele cita três figuras grandes fascistas que se aproximam dos Carecas do Subúrbio procurando neles um braço armado nas ruas e também um meio de recrutamento de mais jovens. As três figuras seriam ALC, AO e AZ, o autor não cita nomes mas destes eu não vou deixar barato:

ALC - Anésio de Lara Campos: já vinha do PRP (Partido da Representação Popular) fundado pelo Plínio Salgado. Em 85 com o fim da ditadura ele reorganiza a AIB (Ação Integralista Brasileira), em 88 funda a Ação Monárquica Imperial e o PARNASO (Movimento Participativo Nacionalista Social) e até chegou a tentar se candidatar à presidência da república pelo Movimento Monárquico Imperial Brasileiro... ou seja, um fascista megalomaníaco com sérios problemas na cabeça!

AO - Aldo Onesti Mônaco: pertenceu à Juventude Fascista Italiana, integrou aqui PNSB (Partido Nacional Socialista Brasileiro) e depois fez parte do AIB. Também é um escritor revisionista e teve livros publicados pela editora Revisão, de Siegfried Ellwanger Castan, outro perturbado fã de grandes ditadores.

AZ - Armando Zanine Pereira Junior: funda em 85 o PNSB e é mentor de pelo menos três outras organizações nazi/fascistas, o Partido Nacionalista Revolucionário Brasileiro, o Partido Nativista e a Força Nacionalista Brasileira.

Estes sujeitos e suas organizações passam a financiar os Carecas do Subúrbio, seus eventos e bandas.

"Quanto  àqueles  que hesitavam em se filiar às organizações, algumas formas de cooptação foram  utilizadas.  Sem  citar  o  nome  de  uma  organização  especifica,  alguns entrevistados disseram que, de um modo geral, todas elas ofereciam cargos dentro da estrutura e financiamento de shows."


E aí começa os conflitos internos envolvendo ideologias e tendencias diferentes, as dissidências que formam os Carecas do ABC e o Poder Branco Paulista mas isso vou deixar a cargo do autor contar e tu vai saber se ler.
O terceiro capítulo se trata de uma análise dos mitos criados pelo Poder Branco Paulista: A supremacia branca, A Secessão de São Paulo e o Sul do resto do país, A conspiração judaica para dominar o mundo.
Essa parte é bem chata porque tenta analisar cada frase e motivação para cada mito, e é cheio de trechos de textos extraídos de fanzines regados a pseudo-ciências racialistas (que apelam até para divindades) e hipocrisias. O autor leva cerca de 30 páginas pra falar: "São um bando de idiotas" - não, o autor não diz isso, em fato, sua imparcialidade é bem incomoda.

Pra fechar, todo o conservador, reacionário e moralista é, por definição, um cagão. Ele tem medo da mudança e por isso se fecha em uma tradição, identidade, verdades únicas/mitos e qualquer merda assim, porque não passa de um covarde. E nas palavras do autor "O Poder Branco Paulista" como o resto da cena Careca "nutre a simpatia por estas ideologias, pois elas não permitem a existência da dúvida, um sentimento que provoca apreensão e agonia." - ou seja, fracos e medrosos.

6 comentários:

  1. Qual é a fonte da participação do Cocksparrer em eventos do National Front?
    Toda informação que eu já vi diz o contrário, que isso jamais aconteceu.
    Na entrevista da banda para a Sounds, 20/11/1982 eles dizem exatamente o contrário. Apesar de serem patriotas se colocam decididamente contra o National Front, dizem que não querem tocar para nazistas e sugerem a possibilidade de doar dinheiro para a causa anti-fascista.

    Cock Sparrer: Strictly For The Birds

    Garry Bushell, Sounds, 20 November 1982
    (...)
    Indeed the only thing standing in the song's way is a possible blank from the radio stations along the (wet liberal propagated) lines that anything remotely patriotic must by definition be at best right-wing and at worst Nazi. Gathered in a discreet Kidbrooke boozer the scotch-handed Sparrer are quick to deny such crass stupidity.

    "It's nothing like that at all," bassist Steve Burgess points out. "The song's about positive patriotism, it's for everyone, it's our country."

    It really winds me up the way the Union Jack is associated with the NF, especially when they're more concerned with another country's cataclysmic cock-ups, and in particular the poisonous philosophies of a certain Adolf Schicklegrubber whose sole contribution to British culture was to flatten half of London (hence inspiring a whole generation of town planners to follow in his size 8's).

    "Well, we're doing something about that," drummer Steve 'Spider' Bruce continues. "We're taking our flag back and proving you don't have to be a fascist to wave the Union Jack. It's our flag, not the NF's. The song's about pride..."

    "Not that we're Tories," Steve Burgess adds, "I agree with you about how bad unemployment is."
    (...)

    Future plans are hazy. There could be an album in the new year depending on how well the single does. And there could be gigs.

    "We wanna do a charity gig to start with," Steve reveals, "maybe for the South Atlantic Fund, or the Anti-Fascist Fund...I dunno."

    Are you worried about gig trouble and the sieg-heiling mugs?

    Steve: "They don't spoil it for us, they spoil it for 'emselves. But we don't want those sort of people anyway. We've always wanted people like ourselves who go out for a good time and to get pissed...a Slade type audience. Normal working geezers."

    "Herberts," Steve elucidates. "And girls with big tits."

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  2. E tampouco já vi qualquer registro das demais bandas citadas tocando em eventos do National Front. O vocalista do Combat 84 deu declarações de direita num documentário da BBC e entrou em conflito com os demais integrantes, o que levou ao fim da banda. O Condemned 84 é uma banda posterior, que de fato teve proximidade com a extrema direita, mas que tampouco tocou em eventos do NF porque assumia uma postura "apolítica", a despeito das convicções dos membros. E o Last Resort, ao que se sabe jamais tocou em eventos de extrema direita, seja do NF ou outra organização ou deu declarações do tipo na época.
    Sobre essas outras bandas você tem alguma fonte? Cartaz, foto, entrevistas, relatos de alguém envolvido, qualquer coisa?
    Não questiono o conservadorismo de integrantes dessas bandas, mas o fato é que a cena ligada às organizações de extrema direita no início dos anos 80 era outra, com outras bandas, não ligada à cena Oi! "oficial", por assim dizer.

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  3. O autor do livro entrevista esse tal "C.S.", ele não gosta de dar os nomes e dá apenas inciais, mas é óbvio que o C.S. é o Chris Skepis, o brasileiro que tocou no Cock Sparrer nos anos 80.
    E acho que ele tá morando no Brasil, há poucos anos atrás teve aquele projeto Final Fight junto com o Juventude Maldita... se der sorte tu encontra ele pela net e pode tirar a dúvida.

    Depois dá uma analisada nas letras Run With The Blind e Price Too High To Pay, parecem críticas ao NF recrutando bandas pra tocar, tem também um filmezinho feito pra TV em 82 chamado "Oi! For England" que tu pode encontrar no Youtube e mostra mais ou menos como os caras iam recrutando,,, depois do incidente lá de Southall as portas se fecharam pra todas as bandas Oi!, e com o NF sendo o único disposto a botá-los pra tocar não duvido nada que muitos chegaram a tocar junto, ainda mais dessa leva de "foda-se" a política como o Cock Sparrer

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    1. Ok, mas isso são suposições e um filme de ficção.
      Não existe, até onde eu sei qualquer prova ou mesmo indício de que o Cocksparrer ou mesmo o Last Resort ou o Combat 84 tenham tocado em algum evento do NF.
      Sei quem é o Chris Skepis, mas o relato dele não diz em momento algum que a banda tenha tocado em eventos do NF, apenas que havia esse assédio. Paralelamente, na entrevista que eu postei acima a banda rechaça publicamente a extrema direita.
      Então, por favor, se houver qualquer indício ou prova de que eles ou mesmo o Combat 84 e o Last Resort tenham uma vez sequer tocado em eventos do NF (ou outra organização de extrema direita) eu gostaria de ver.
      Em 20 anos pesquisando este tipo de música eu nunca vi.

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    2. A fonte é o próprio livro e os relatos do Chris Skepis sobre isso, tu pegou pra ler? Eu só tirei um trecho aí no resumo.

      "A Cock Sparrer, assim como muitas outras bandas, aceitaram a
      aproximação do National Front como uma opção à falta de espaço para
      apresentações, devido aos tumultos causados pelo público que freqüentava os
      shows da banda gerava prejuízos para os proprietários:

      "a gente queria tocar. O Cock Sparrer no começo, quando eu entrei,
      tinha muito espaço, tanto é que no primeiro lugar que eu toquei foi no
      100 club, mas começou a ter muito tumulto, em Londres a gente
      estava banido de tudo quanto era canto, então a gente precisava de
      alguns apoios pra arrumar shows pra gente tudo mais, então a gente
      contava com eles, mas a gente nunca entrou em manifestação(...)
      nós fizemos shows que eram patrocinados por eles, tipo, alugavam
      assim a aparelhagem e o local." "

      Aí o Chris Skepis tá falando o que eu disse na postagem, "participaram de eventos patrocinados pelo National Front".

      Dúvidas baixa o livro aí e leia as páginas 27 e 28.

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  4. Boa tarde. Você teria mais informações sobre Aldo Onesti?

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